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A cana que dá garapa

Melhor variedade para a produção de garapa e rapadura, o plantio da cana-de-açúcar batizada 3250 está em declínio entre os usineiros, por causa de uma doença chamada ferrugem alaranjada

O município de Cajuru, com seus 660 quilômetros quadrados de área territorial, é o maior fornecedor de cana para garapa, no Estado de São Paulo – e muito provavelmente do Brasil, embora não existam dados comparativos.

Melhor variedade para a produção de garapa e rapadura, o plantio da cana-de-açúcar batizada 3250 está em declínio entre os usineiros, por causa de uma doença chamada ferrugem alaranjada, que ataca as folhas, e pode provocar perdas na produção.

Mas em Cajuru, a 64 quilômetros de Ribeirão Preto, a 3250 ainda é sinônimo de bom negócio. É cultivada com carinho e cuidados extremos por agricultores com propriedades de até 15 alqueires. A maior concorrência, hoje, é Caçapava, no Vale do Paraíba, que em razão da menor distância até São Paulo, resolveu investir no plantio da 3250.

Primavera e verão, o auge

Durante a primavera e o verão, Cajuru manda para os garapeiros de São Paulo, diariamente, 20 mil quilos de cana bruta, o equivalente a três mil feixes com doze unidades de cana cada um. O feixe é vendido a R$ 5. O total de 20 toneladas movimenta R$ 18 mil. As despesas de frete correm por conta do remetente. Cabe ao comprador limpar e fazer o corte.

Antes de ser raspada, a cana pode durar até dez dias. Depois de cortada para a moagem, suporta dois dias, no máximo.

Entre os agricultores mais antigos, destaca-se Paulo Vicente de Almeida, 48 anos, cuja produção é totalmente voltada para o abastecimento do caldo consumido em Ribeirão.

Paulinho é conhecido por produzir cana de boa qualidade. No combate às pragas, como a broca, ele substitui herbicida pelo uso de um parasitoide conhecido como vespinha (controle biológico) produzida pela bióloga Eni Costa, no laboratório Biocana, em Pontal.

“O Paulinho é o nosso único cliente de cana para garapas, em Cajuru. Usamos a vespinha distribuída em copos descartáveis, estrategicamente, com 750 a 1.500 unidades em cada copo”, diz a bióloga.

Herbicida só é aplicado quando a cana está bem nova. Também é utilizado o adubo químico porque o orgânico deixa a cana “aguada”.

Paulinho entrega, semanalmente, em Ribeirão, 15 mil quilos de cana bruta, cerca de 1,5 mil feixes, também a R$ 5 a unidade.

No ramo há 25 anos

No ramo há quase 25 anos, no começo, influenciado pelo sócio que o introduziu no negócio, Paulinho abastecia apenas o mercado de São Paulo. Cinco anos depois, decidiu endereçar sua produção aos garapeiros de Ribeirão Preto e região.

“Ganho pouco, mas posso dizer que estou satisfeito com o negócio”, diz.

Cortes

O agricultor reveza talhões de um alqueire na produção.

O primeiro corte (cana nova) demora dezoito meses. Os demais, são anuais. O segundo e o terceiro cortes também vão para os garapeiros. O quarto e o quinto são destinados a rapadura, usina ou gado (cana moída).

“Depois do terceiro corte, a 3250 perde a qualidade para garapa. Mas é uma cana especial. Não escurece logo após a moagem e resiste a quatro passagens pela moenda, sem desmanchar o bagaço”.

A 3250, por enquanto, é a única que serve para caldo. Mas ele admitiu que anda fazendo experiência com outras variedades.

“Estou fazendo testes com a 2847. Também tenho visitado, aleatoriamente, alguns canaviais de usinas e testado outras canas em moagem. Infelizmente, a praga da ferrugem está dificultando a produção.

Para comer

Paulinho cultiva outra preciosidade. É a 413, cana de gomos curtos, vendida em rodelas (em Salvador, nos estádios de futebol, é oferecida em roletes). Na região de Ribeirão, depois de descascada, é cortada em rodelas para venda na rua.

“Eu mantenho um hectare (1/3 de um alqueire) da 413. Quando tenho, vendo toda a produção”, conta.

Providência útil

O corte da cana é feito por quatro funcionários, que também cuidam do canavial. As sobras dos cortes, Paulinho doa aos fazendeiros, como alimento para o gado. “Eu ajudo eles (dando o alimento rico em fibras) e eles levam embora. Com isso, evito queimadas e diminuo a incidência da propagação de doenças e pragas”, diz.

Cana boa e limpa. É só moer

Um barracão no Jardim Zara, zona Norte de Ribeirão Preto, recebe, a cada semana, 15 mil quilos da variedade 3250. Ali, a cana procedente de Cajuru, é limpa, cortada e distribuída, em feixes, para 35 garapeiros. No total, são, aproximadamente, 1.500 feixes. Cada feixe, com doze canas, produz entre seis e dez litros de garapa, dependendo da grossura dos gomos. Estipulando a média de oito litros por feixe, Ribeirão consome 12 mil litros da bebida a cada sete dias. Quase 1,8 mil/dia.

O serviço de limpeza e entrega da cana é feito por Cleiton Alves de Jesus, 33 anos. Ele iniciou na atividade quando tinha 17 anos, em barracão alugado de terra batida, com trabalho totalmente manual. Cresceu e hoje possui imóvel e adquiriu uma máquina de R$ 40 mil para limpar a cana. Ele compra o feixe por R$ 5 e vende a R$ 10.

Por sorte, tem ao lado uma mulher valente, que nasceu no sítio (Cássia dos Coqueiros). É Juliana de Fátima de Jesus, 32, que passa a 3250 na máquina. O marido faz o corte. O trabalho se repete dia após dia – incluindo domingos e até feriados.

“As entregas são diárias porque a cana, depois de limpa e cortada, dura dois dias. Em estado bruta, pode durar até oito dias”, explica Cleiton.

Seus maiores clientes estão na região central de Ribeirão. O Tim do Mercadão Central, por exemplo, compra de 30 a 40 feixes por dia; o Abel, de 10 a 20; o Leonardo, da avenida Henri Nestlé, na zona Norte, de oito a dez feixes/dia; João Garapeiro, cinco feixes; e dona Angelina, dois.

No fim, todos ganham. Infelizmente, neste ciclo de vida que sustenta famílias e educa filhos, quem está perdendo é a 3250, praticamente condenada ao extermínio por causa de uma doença conhecida como ferrugem alaranjada.

Em 60, Angelina ganha ponto

Ribeirão Preto, 1960. O prefeito Alfredo Condeixa Filho ajeita-se na principal cadeira do Palácio Rio Branco para cumprir seu segundo mandato. Logo na primeira semana depois da posse, o casal Joaquim Cinco e Angelina Marchini Cinco é autorizado a montar um ponto de garapa ao lado da Prefeitura.

“Fiquem tranquilos. Ninguém vai tirá-los daqui”, sentenciou Condeixa.

Dona Angelina, 84 anos, lembra que onde hoje é o Fórum, existia um grande matagal. Atrás da rua General Osório, seguindo pelos lados de onde fica o Cine Cauim, estendia-se uma espécie de favela, de construções feias e rudes. Havia algumas pensões de “reputação” duvidosa. As ruas eram calçadas ou de terra.

Há 53 anos no mesmo ponto

Dona Evangelina, a garapeira mais antiga em atividade, em Ribeirão Preto, está há 53 anos no mesmo lugar, na praça Rio Branco, esquina da General Osório com a Cerqueira César.

Durante 36 anos, simultâneamente, também atendeu na Feira Livre 1, na avenida Independência, aos domingos, extinta na administração do prefeito João Gilberto Sampaio.

No seu “ponto” de origem, iniciava a jornada às 9h e encerrava às 17h30. Como hoje. A grande diferença é que Joaquim Cinco não existe mais. Faleceu há 12 anos.

O Studebaker que abriga a moenda de dona Angelina, é de 1951 e está há 42 anos com ela. A moenda também é uma raridade. Foi doada a Joaquim Cinco, pelo garapeiro João Perone, que já estava estabelecido.

João Perone, a partir de 1955, assumiu o “ponto” na Álvares Cabral com Florêncio de Abreu, em frente à mansão de Joaquim Pinto Ferraz, onde ficou 18 anos.

“O João foi um grande homem, passou a moenda para nós. O primeiro caminhão que tivemos foi um Fordinho 29. Aí, compramos o Studebaker”, lembra Angelina, mãe de duas filhas.

É uma delas que a leva ao trabalho de manhã, dirigindo o Studebaker, e vai buscá-la no fim da tarde. A moenda, que já tem 75 anos, recuperada algumas vezes, está ótima. Dona Angelina também tira o sustento com a 3250, a cana-de-açúcar mais “carismática” do Brasil e que, infelizmente, está com seus dias contados.

“A garapa foi o nosso sustento, graças a Deus. Hoje, está um pouco mais difícil, caiu o movimento. Mas, sinceramente, não sei passar o dia sem vir para cá”, confessa dona Angelina.

Pesquisa aponta novas alternativas para cana de garapa

O Brasil tem hoje 424 variedades de cana-de-açúcar. A 3250, a cana de nossa garapa, começou a ser plantada em 1988. Embora desprezada pelas usinas, ainda é a segunda mais cultivada (13% da área) perdendo apenas para a RB-7515, com ocupação de 29% da área de plantio, o correspondente a 2,5 milhões de hectares. Em terceiro lugar vem a 6928 e, na sequência, uma sucessão de variedades do CTC (Centro Tecnológico Canavieiro) de Piracicaba.

Uma doença chamada ferrugem alaranjada é o que tem levado os usineiros a substituir a 3250. Infelizmente, ela está com os dias contados.

“Trata-se de uma variedade antiga. Seu desenvolvimento foi iniciado em 1981 e, portanto, está mais sujeita à ferrugem alaranjada. Outras espécies têm ocupado seu espaço”, diz o engenheiro agrônomo Virgílio Vicino, diretor de marketing do CTC.

O agrônomo sugere como possíveis substitutas algumas variedades do CTC, como a 4, 9, 9001. “São canas com alto teor de sacarose que podem ser testadas para garapas”.

Instituto Agronômico

O pesquisador Marcos Andrade Guimarães Landell, do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) dá prazo: em dois anos a 3250 estará erradicada. “Existem outras variedades de cana mais rentáveis”.

Para substituí-la, há duas variedades com excelente coloração, segundo o pesquisador: são a IACSP-95-5000 e a IAC-91-1099.

Especial para o paladar, a `413´ é do tipo sensível

A variedade 413, também produzida em Cajuru e apreciada em rodelas – ou rolete – muito vendidas em portas de escolas, é de ótima qualidade, macia e suculenta em razão do baixo teor de fibras. Mas não é plantada pelas usinas por se tratar de uma cana muito sensível, que se verga facilmente a ventos mais fortes e vai ao chão.

Fonte: Jornal A Cidade

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